A sobrevivência do turismo depende da forma como lidamos com a natureza. Se a atividade não se alinhar às práticas sustentáveis, atrativos que hoje encantam podem desaparecer. O que estou tratando aqui é simples: são as tecnologias de baixo impacto que podem assegurar o futuro do turismo sustentável, combinando conservação ambiental e experiência de qualidade para o visitante.
É preciso reconhecer que a sustentabilidade no turismo não está apenas em discursos, mas em ações práticas. E essas ações passam por soluções acessíveis, replicáveis e eficientes. O Brasil já acumula exemplos valiosos. Em Bonito no Mato Grosso do Sul, o controle por meio de vouchers digitais limita o número de visitantes em rios e cavernas, garantindo a integridade dos ecossistemas. Em Fernando de Noronha, o agendamento online para trilhas e piscinas naturais regula a entrada de turistas em áreas sensíveis. São tecnologias simples, mas que fazem diferença na preservação.
Outro campo fundamental é a infraestrutura leve. Passarelas elevadas, decks de observação e trilhas sinalizadas reduzem erosão e protegem a vegetação. É a prova de que não é necessário transformar a paisagem com grandes obras para oferecer segurança e conforto ao visitante. Da mesma forma, o transporte interno em parques pode migrar para modelos limpos. O Parque Nacional do Iguaçu já opera ônibus híbridos e vem testando veículos elétricos, um avanço que reduz ruídos e emissões de carbono em um dos destinos mais visitados do país.
Na hospedagem, multiplicam-se soluções inspiradoras. Hotéis Lodges como o Juma Amazon na Floresta Amazônica e o Cristalino no Mato Grosso utilizam energia solar, biodigestores e sistemas de reaproveitamento de água, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e evitando a contaminação de rios. Além disso, destinos como Fernando de Noronha proibiram plásticos descartáveis, uma medida que exige adaptação de visitantes e comerciantes, mas que elimina toneladas de resíduos ao longo dos anos. Nos ambientes costeiros, iniciativas como as boias de amarração em Abrolhos mostram que pequenas intervenções podem evitar danos irreversíveis aos corais.
Esses exemplos revelam que o turismo sustentável não precisa de megainvestimentos, mas de visão e planejamento. As tecnologias de baixo impacto têm a vantagem de serem replicáveis em diferentes realidades, desde destinos de ecoturismo até cidades históricas. No entanto, surge a indagação: o que estamos, de fato, fazendo para que o turismo minimize seus impactos? Muito se fala em sustentabilidade, os discursos são inspiradores, mas, na prática, em destinos turísticos de massa raramente esse tema ocupa o centro das decisões. Falta vontade política, engajamento do trade e coragem para transformar boas práticas em regra, e não em exceção.
Concluo reforçando que o turismo só será verdadeiramente sustentável quando gestores, empresários e turistas compreenderem que preservar não é custo, mas investimento. As tecnologias de baixo impacto já provaram sua eficiência e devem ser adotadas como regra, não como exceção. Afinal, um destino só se mantém atrativo se conservar a sua essência. O desafio não é técnico, mas de decisão: escolher entre o imediatismo ou a permanência de um turismo que resista ao tempo.
Ana Macêdo
Editora do Minuto Turismo