A paisagem do turismo contemporâneo está em constante transformação. Tenho acompanhado isso de perto. Já não basta um destino ser apenas bonito ou acolhedor, hoje, é preciso que ele seja inteligente. Eu enxergo com entusiasmo e atenção essas mudanças e percebo como a digitalização dos territórios turísticos está redefinindo não apenas o planejamento urbano, mas também a maneira como nos conectamos com as cidades e com o morador.
Os chamados Destinos Turísticos Inteligentes (DTIs) são um reflexo direto dessa nova mentalidade. Mais do que adotar tecnologias pontuais, esses destinos criam um ecossistema que integra inovação, sustentabilidade, inclusão e governança para oferecer experiências mais completas ao visitante e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade de vida da população local. É um conceito em movimento, que une dados, urbanismo e bem-estar social numa mesma lógica de desenvolvimento.
Aqui no Brasil, temos bons exemplos disso. Cidades como Curitiba, Florianópolis, Campo Grande, Recife, Salvador, Rio Branco, Palmas e Foz do Iguaçu já assumiram esse modelo. Elas vêm utilizando ferramentas tecnológicas, plataformas digitais e boas práticas sustentáveis não só para enriquecer a experiência do turista, mas também para tornar a gestão pública mais eficiente e participativa. Também é o caso de Gramado, Bonito, Fortaleza, Vila Velha e Joinville, que mostram como o turismo pode ser motor de inovação urbana e não apenas uma atividade econômica.
Fora do Brasil, Zurique se destaca como um exemplo concreto de cidade que incorpora os pilares de um Destino Turístico Inteligente, mesmo sem portar uma certificação formal. A cidade suíça desenvolve o programa Smart Zürich, que reúne iniciativas voltadas à mobilidade inteligente, sustentabilidade, governança digital e bem-estar de moradores e visitantes. Aplicativos como o ZVV-Ticket App, que integra informações de transporte público, plataformas abertas como o Open Data Zürich e recursos digitais interativos espalhados pelos principais atrativos turísticos mostram como a inovação pode facilitar a vida de quem mora e de quem visita. Some-se a isso a força de hubs como o Trust Square, referência em infraestrutura de tecnologia descentralizada (Dezentrale Technologie-Infrastruktur), e temos uma cidade que inspira pela forma como conecta tecnologia, turismo e qualidade de vida.
Mas afinal, o que torna um destino verdadeiramente inteligente? A tecnologia é peça-chave, claro, mas não é tudo. Estamos falando de cidades que se preocupam com acessibilidade universal, conectividade em tempo real, sustentabilidade ambiental e, principalmente, com a participação ativa da comunidade. São territórios que acolhem tanto o turista quanto o morador, promovendo experiências mais humanas, inclusivas e conscientes. É o turismo somado à inteligência urbana, e isso faz toda a diferença.
Gosto de ver como os dados se transformam em ação nesses lugares. Aplicativos que personalizam rotas conforme o perfil do visitante, sistemas que monitoram o fluxo de pessoas para evitar sobrecarga, plataformas que medem o impacto ambiental da atividade turística. Tudo isso já existe e está sendo colocado em prática.
O resultado é que esses destinos conseguem gerenciar melhor os impactos do turismo, criar experiências mais autênticas e ainda fidelizar os visitantes. E o mais interessante é perceber que, com base nos dados coletados, as decisões se tornam mais precisas e moldadas às necessidades reais do território.
Claro que essa transformação vem acompanhada de desafios. Tornar uma cidade um DTI exige planejamento de longo prazo, integração entre setores, investimentos consistentes e, acima de tudo, vontade política e engajamento da sociedade. É fundamental envolver os moradores, capacitar os profissionais da área e aproximar o poder público do setor privado para que esse novo modelo realmente funcione.
Pessoalmente, vejo esse movimento como algo inevitável e necessário. Estamos caminhando rumo a cidades mais conectadas com as pessoas, com o meio ambiente e com o tempo que vivemos. E, se o turismo é, por essência, uma experiência de descoberta e encontro, os destinos inteligentes são a evolução natural desse caminho.
Ana Célia Macêdo