Quando o guia educa, o destino respira melhor

Num mundo em que o turismo já responde por cerca de 8% das emissões globais de gases de efeito estufa, cada escolha de viagem deixa uma pegada maior do que parece. Transportes, hospedagem, alimentação e até as lembranças compradas em uma viagem entram nessa conta. Ao mesmo tempo, estudos apontam que milhões de espécies já sofrem pressão direta das atividades de turismo e recreação em áreas naturais, em especial nas zonas costeiras.

Diante desse cenário, não basta vender um passeio bonito. É necessário orientar o turista sobre condutas ambientais. Isso deixou de ser um “diferencial” e se tornou uma responsabilidade ética de todo profissional do turismo, em especial, guias e condutores.

O Ministério do Turismo define o turismo sustentável e responsável como aquele que atende às necessidades dos visitantes e das comunidades receptoras, ao mesmo tempo que preserva o patrimônio cultural, os ambientes naturais e a biodiversidade para as futuras gerações.

O Sebrae fortalece essa ideia ao falar em turismo responsável como uma mudança de mentalidade. Não é só ter um hotel “verde” ou um atrativo com selo. É fazer com que turistas, empresários, comunidades e poder público assumam a responsabilidade pelos impactos sociais, culturais e ambientais da atividade. Na prática, isso só ganha força quando alguém traduz conceitos em atitudes simples e repetidas.

É aqui que entra o papel do guia de turismo. Ele é a voz que conecta o discurso da sustentabilidade ao comportamento de quem está, literalmente, pisando no território. E é também aqui que entra a importância de capacitar esses profissionais para poderem atuar de forma plena e consciente. A We Guide, por exemplo, é uma plataforma que tem como propósito, por meio do seu Academy, capacitar guias e condutores de turismo em profissionais, preparados não apenas para conduzir roteiros, mas para aplicar os princípios de ESG (ambiental, social e de governança) em sua prática diária.

O foco está em desenvolver competências que unam conhecimento técnico, sensibilidade humana e compromisso com a sustentabilidade, tornando cada guia um verdadeiro agente de transformação no turismo brasileiro.

Pesquisas na área já apontaram que a educação ambiental é a base para um turismo responsável. Portanto, ao sensibilizar visitantes e trabalhadores do setor sobre os impactos positivos e negativos da atividade, abre-se espaço para um comportamento mais consciente. Documentos do Ministério do Meio Ambiente sobre ecoturismo e condução ambiental confirmam essa perspectiva, mostrando que o condutor é peça-chave na mediação entre visitante e ambiente, explicando regras, limites, fragilidades e potencialidades dos atrativos.

Quando o guia interrompe a trilha para mostrar um ninho, explicar o ciclo de uma nascente ou pedir que o grupo fale mais baixo para não estressar a fauna, ele não está “atrasando o passeio”. Está ensinando um novo modo de estar e de se comportar naquele ambiente, ainda que por algumas horas.

Eu tenho cerca de 20 anos de experiência no turismo, fui agente de viagens, guia de turismo e vivi de perto a rotina de quem faz o turismo acontecer. E é justamente por isso que afirmo: essa dimensão educativa não é um detalhe, é a base de tudo. Quando falta orientação, o impacto aparece rápido, seja com lixo espalhado, trilhas degradadas, desperdício de água e energia, natureza em desequilíbrio e, principalmente, com a perda da autenticidade cultural, que é justamente o que torna o destino diferenciado e encantador. Educar o turista é cuidar do lugar. É garantir que o turismo continue sendo uma força positiva, que gera pertencimento, sustento e orgulho para quem vive dele e para quem o visita.

Nos últimos anos, campanhas da ONU e do MTur vêm mostrando caminhos concretos para um turismo mais responsável. A mensagem é simples, e diz que, cada viajante precisa entender que o lixo que ele gera é sua responsabilidade, e que estar na natureza é observar, não interferir. Que cuidar da água e da energia também faz parte da experiência. Afinal, cada gesto conta para preservar. Que valorizar o comércio local, respeitar as comunidades e seguir as regras dos parques e atrativos são atitudes que garantem um turismo mais consciente, sustentável e significativo.

Alguns destinos já produzem manuais específicos do “turista consciente”, com orientações claras sobre usos de praias, áreas urbanas, unidades de conservação e patrimônio histórico. Esses materiais funcionam como base, mas é o guia quem traduz esse conteúdo para a realidade do grupo, considerando idade, interesses, limitações físicas e até o clima do dia. Essas recomendações também podem estar em placas, sites e cartilhas, mas o que faz diferença é alguém olhar no olho do turista e explicar o sentido de cada uma delas.

Na minha opinião, o guia que assume a pauta ambiental como eixo do seu trabalho melhora a qualidade da experiência do turista, protege o próprio trabalho, fortalece a imagem do trade local e contribui diretamente para as metas globais de sustentabilidade, alinhando o turismo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente os relacionados ao consumo responsável e à vida terrestre e marinha.

A boa notícia é que a mudança começa em gestos simples, como incluir ações ambientais em todos os roteiros e transformar cada trilha, atividade, city tour ou visita guiada em uma oportunidade de educação ambiental. Quando o turista entende que pisar em uma trilha, entrar no mar ou visitar um centro histórico é um privilégio, e não um direito ilimitado, algo muda. Ele passa a se perceber como parte da solução, não apenas do problema. Eu costumo dizer que essa é a verdadeira importância de orientar o turista sobre condutas ambientais e responsáveis, pois é assim que formamos viajantes conscientes, capazes de manter vivos os destinos que amamos.

Ana Macêdo

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